Desde que perdeu a esposa e o emprego que Leo não conseguia abandonar a bebida. Achava que tudo aquilo fora uma injustiça com a sua pessoa e que um dia ainda seria desagravado. Também pudera. Maria, o nome da desavergonhada, trocou-o por um caminhoneiro num domingo festivo. Entrou na boleia e nunca mais foi vista.
Pior mesmo foram os comentários maldosos na pequena cidade. As gentes do interior têm essa mania de comentar a vida alheia! Mas no caso de Leo, a maldade ia além de simples comentários. Ele era apontado na rua e riam de sua cara: "Lá vai o chifrudo!" "Ó Leo, cadê sua mulher?" "Leo, sua mulher não faria um frete para mim?"
Com uma pressão dessas não me admira que tenha optado por enfiar a cara da cachaça. E enfiou com vontade. Começou com invernada de sexta a domingo, mas por final das contas já bebia todos os dias da semana. E não deu outra. Perdeu o emprego. Foi dispensado por justa causa. E depois disso é que largou mão de tudo e se afundou no álcool. Os amigos até que tentaram ajudar, aconselhavam, tentavam levá-lo para a igreja, Coisas assim. Mas tudo foi inútil. Leo está irremediavelmente perdido, esse era o consenso.
E até que podia ter sido verdade, se o acaso não houvesse surgido. É que certa manhã, depois de uma noite de muita bebida e lamúrias, ele acordou com a cabeça pesada de chumbo, boca seca de ressaca e ainda meio bêbado. Já era quase meio dia. E foi então que notou a presença de mais alguém ali no quarto. De imediato sua mente se encheu de esperança: É Maria! Mas não era. Quando se voltou repentinamente para ver sua amada, foi o diabo que viu. O maldito era vermelho, tinha chifres e rabos, asas de morcego e olhos de fogo.
Leo se levantou num salto e caiu sentado porque seu corpo estava pesado por conta do álcool. E o demo ria dele com gargalhadas debochadas. Sua cabeça doía demais e o maldito o torturou com um violino mal tocado.
― Que quer de mim? ― gritou.
― Só sua alma.
Chorou demais, sujou a calça e a custo conseguiu se arrastar até a calçada. Quem passava não se importava com aquilo ― é coisa de bêbado.
Essa aparição, que para qualquer de nós seria uma maldição, para nosso protagonista foi uma bênção. Isso mesmo, bênção. E digo isso porque ele mudou radicalmente de vida. Parou de beber, passou a frequentar igrejas (de todos os credos), tornou-se muito caridoso e benevolente. Um santo homem, enfim!
Essa aparição, que para qualquer de nós seria uma maldição, para nosso protagonista foi uma bênção. Isso mesmo, bênção. E digo isso porque ele mudou radicalmente de vida. Parou de beber, passou a frequentar igrejas (de todos os credos), tornou-se muito caridoso e benevolente. Um santo homem, enfim!
Casou-se também com uma moça mais velha, já tida como solteirona, e foi mais para não ficar sozinho ali naquela casa do que por amor. E são muito felizes até hoje.
Por conta do companheiro de bebida, João deixou de beber.
Adriano Curado
Conto resumido e extraído do livro: O tapuia que não falava português.
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