O alpinista

Bruno e eu éramos muito amigos. Crescemos juntos e estudamos nas mesmas instituições de ensino, até que chegou a faculdade e cada um seguiu seu caminho. 

Ocorre que há três anos nós brigamos. Nem sei direito qual foi o motivo, mas acho que era por causa de um negócio que eu queria realizar e ele me disse que era uma fria. Hoje, depois de amargar um prejuízo, reconheço que ele tinha razão.

Há um ano Bruno, que era alpinista, sofreu um acidente fatal. Ele despencou misteriosamente de uma montanha na Cordilheira do Himalaia e se espatifou lá embaixo. Uma tragédia que abalou a todos nós, seus amigos, e mais ainda a mim porque ele morreu antes de fazermos as pazes.

Lembrei-me desse fato hoje porque encontrei um livro que havia emprestado para Bruno e que ele devolveu através de um amigo em comum, já que tentou falar comigo e não o recebi. Dentro do livro, só agora descobri, havia um bilhete para mim, com os seguintes dizeres:


"Caro amigo, não faça conta daquela nossa discussão boba. A vida é muito curta e nossa amizade deve estar acima disso tudo. Me perdoe por dar palpites na sua vida financeira, mas é que aquela negociata com pessoa de maus antecedentes não me pareceu saudável. Vou para o Himalaia depois de amanhã, e se você realmente gosta de mim, me procure antes. Se não der, eu o procuro quando voltar". 

Bruno nunca mais voltaria. Foi um duro golpe para meu orgulho descobrir seu bilhete agora, depois de tanto tempo. Sinto-me mal, evidente, mas aprendi uma lição muito importante. Eu o julguei e condenei sem direito de defesa. Espero nunca mais agir assim.

Descanse em paz, meu amigo!

Adriano Curado

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