Crônica de viagem: Barretos











Em janeiro fui até a cidade de Barretos, interior de São Paulo. Rica em cultura, infelizmente a cidade é conhecida internacionalmente apenas pela festa do peão, que só acontece durante dez dias do mês de agosto. O barretense não gosta dessa festa e torce o nariz para o parque em formato de ferradura que o Oscar Niemeyer desenhou.





A cidade padece com a falta de uma política pública de preservação dos patrimônios material e imaterial. No centro se vê os casarões dos velhos coronéis, suntuosas construções feitas com o requinte de uma época de prosperidade. Apesar disso, a cidade não é tombada nem pelo patrimônio histórico estadual. E o resultado é que toda vez que volto lá, no lugar de um desses casarões há um lote vago usado para estacionamento. Uma pena.





O barretense é tradicional e se orgulha de contar histórias de seus vastos campos repletos de bois nas invernadas. Isso no passado, pois agora a cana-de-açúcar dominou tudo, deitou abaixo as matas e expulsou o gado. As usinas compram cada vez mais terra, derrubam as casas, cortam as árvores e depois plantam mais e mais cana.



Obviamente que tudo tem seu preço e agora a cidade é uma caldeira terrível, acho até que galinha bota ovo cozido por lá. Quando a monocultura toma conta, ela destrói as referências pessoais, acaba com a história do homem que morou naquele campo. Ouvi relatos de pessoas que diziam que seus avós nasceram e morreram numa sede centenária, mas os tratores passaram por cima de tudo e nem os pomares de frutas escaparam. Para a monocultura só interessa o campo limpo.



Visitei o antigo parque do peão, a estação ferroviária e uma igreja belíssima. E, claro, fotografei.


Adriano Curado






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