O frio chegou
Começaram a subir frentes
frias pela coluna vertebral brasileira. Vem lá do Rio Grande do Sul
e nos atinge em cheio no Centro-Oeste. Aqui no Brasil Central, onde
estamos acostumados com calor, agora vemos multicoloridos agasalhos.
Nas noites, o consumo de cerveja foi substituído por vinhos. As
pessoas ficam mais bonitas, mais bem-vestidas.
Graças ao bom Deus, eu e
minha família temos condições financeiras de nos agasalharmos, de
tomar refeições normalmente. Mas vejo tantos que não têm isso!
Sob as marquises, adultos e crianças se viram como podem. Geralmente
tentam se proteger com caixas de papelão e cobertores velhos. Sabem
que não será fácil quando a madrugada aportar e a temperatura cair
depressa.
Movidos pela caridade,
muitos grupos se revesam pela noite na distribuição de sopas e
agasalhos arrecadados. Eu mesmo já fiz parte de um desses grupos,
quando o tempo era mais farto e a disposição mais avultada. Essas
ações isoladas, obviamente, não resolvem tão grave problema
social, mas amenizam bastante.
Então em concluo que o
frio em regiões quentes é antissocial. Se tivéssemos por aqui um
governo mais atuante, que se importasse efetivamente com o cidadão,
só passaria frio quem quisesse. Mas a realidade é bem outra. Jogada
à própria, essa gente maltrapilha não tem muito como se socorrer.
Os abrigos da prefeitura municipal não têm vagas para tanta gente,
e logo pela manhã precisam desocupar apressados o lugar, procurar
formas de sobreviver à luz do sol. Porém não devem se afastar
demais, pois ocupará a vaga à noite quem chegar primeiro.
Ocorre que Zéfiro, o
deus grego do vento, não se interessa pelo estado dos moradores de
rua brasileiros, e assopra incessante as partículas geladas lá do
sul. Daqui para frente, até que passe o meio do ano, é esperar cada
vez mais assopros dessa divindade, como se ela não tivesse nada mais
útil para fazer.
Adriano Curado
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