A fuga do louco

Quando correu a notícia de que Valdo havia fugido da clínica psiquiátrica foi um alvoroço na cidade. Ele era um famoso louco perigoso, furioso e forte. Havia matado os pais e o irmão com uma faca e ainda atentado contra a vida da irmã, que miraculosamente escapara. 

Isso foi há cinco anos. Na época o delegado responsável pelo caso, Vladimir, não investigou muito, considerando que o autor do fato tinha um longo histórico de tratamento psiquiátrico, embora sem nenhum registro de agressão a alguém. A única particularidade foi ele ter cometido os homicídios e ainda ter frieza para destruir o circuito interno de filmagem da casa.

Depois do crime bárbaro, foi internado para tratamento e lá ficou esse tempo todo. A irmã sobrevivente do massacre passou a gerir a fábrica da família e não o desamparou financeiramente.  Não sei se era por conta dos remédios que o dopavam ou por arrependimento, se era capaz de tal sentimento, fato é que sempre foi um interno exemplar.


Tudo parecia na mais perfeita ordem até a noite de hoje, quando Valdo conseguiu escalar o muro da clínica e desaparecer. Foi visto não faz muito em desabalada correria por uma rua próxima. A polícia foi de pronto acionada e alertou a irmã para que se resguardasse. Mas por sorte ela está num luxuoso hotel nas Bahamas, em merecidas férias com o namorado.

Enquanto a polícia militar dava buscar nas ruas desertas - ninguém queria se arriscar -, o delegado Vladimir, que tinha acabado de assistir o alerta no noticiário, correu para a casa local da tragédia porque sabia que nela habitavam novos moradores. Não deu outra. A família que alugou há um mês o imóvel - pais e uma criança - estava sentada num sofá e assistia em choque o louco esmurrar o assoalho na tentativa de quebrar as tábuas.

Vladimir faz sinal para que todos saiam devagar e em seguida aponta a arma para o outro. Valdo para o que faz, escuta as palavras que lhe são gritadas, e sem dar maior importância termina de quebrar a tábua. Então se levanta com algo na mão e o estende ao delegado. Mas Vladimir se assusta por pensar que é uma faca, atira e mata Valdo. 

No dia seguinte na delegacia Vladimir assiste à aterradora cena da morte da família de Valdo. Mas não é ele o assassino e sim sua irmã.

Adriano Curado

Conto resumido extraído do livro O tapuia que não falava português.

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