![]() |
Foto Adriano Curado |
Aquela mangueira ali parece ser uma boa opção. Tem troncos grossos e na altura certa: nem tão baixos que permitam que o instinto de sobrevivência o force a tocar os pés no chão, nem tão altos que exijam uma escalada. É, essa serve! Joga então a corda mais acima, senta-se no galho de onde pretende saltar, passa o laço no pescoço e se prepara para o mergulho mortal. Se tiver sorte e o pescoço se partir no baque, melhor. Se isso não acontecer terá de morrer asfixiado.
É só dar um salto, João, e tudo está acabado. Passam bandos de pássaros no horizonte e uma vaca berra melancólica nas proximidades. Pensa agora que, se se jogar dali, aquela mangueira ficará amaldiçoada e ninguém mais vai querer seus frutos - as mangas da árvore do enforcado. Melhor mesmo escolher outro lugar.
E foi na procura de uma árvore para se matar que João chegou em casa. Era uma construção simples, de reboco à mostra, telhado com necessidade de reparos, mas cercada por multicoloridas flores do campo. Entra agora de cabeça baixa, com a corda ainda no ombro, e antes de narrar o acontecido à esposa, é surpreendido:
- A polícia estourou há uma hora aquele cassino clandestino perto da ponte velha. Me disseram que os de dentro responderam com tiros e os policiais passaram pente fino. Não ficou um jogador para contar história.
- E o Maneco? Ele sempre ia lá jogar.
- Foi o primeiro a morrer porque atirou no cabo do destacamento.
João agora se senta pesado na cadeira. Olha para a esposa e os quatro filhos pequenos, para a imagem de Senhora das Graças no oratório e por fim para a corda que ainda carrega. João pensa: "a sorte é traiçoeira."
Adriano Curado
Nenhum comentário:
Postar um comentário