Esta noite me debrucei sobre a sacada
de casa e testemunhei uma lua majestosa, de brilho singular,
dependurada lá onde ataram o nó que sustenta as estrelas. Fiquei
hipnotizado por ela, como fazem os lobos no cio da criação. Dava
até para ver os contornos de algumas crateras, convite de
insinuações para um deleite poético em suas entranhas.
E
como se insinua para mim essa
colossal criatura! Ela já foi o motivo de muito vinho, muita
coragem, muita covardia, muitas amores e dissabores. Ali já habitou
um dragão e um santo que o espetou. Ali já pisou o homem à procura de
sua essência filosófica, mas foi uma missão em vão porque o efêmero se
exala diante dos impuros.
Mas nesta noite a lua é só minha.
E para ela vou compor uma canção, dessas que falam de muito amor,
obviamente. Ou quem sabe eu lapide um poema multicolorido nas
entrelinhas pudicas da virgindade de um papel em branco. Ou pode ser
até que eu vá até lá, logo mais, quando finalmente o sono me
embalar e me libertar das amarras deste corpo físico.
Creio que esta noite a lua é minha amante!
Adriano Curado
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