O despertador madrugador


O despertador me faz dar um salto da cama às seis. É segunda-feira, quero dormir um pouco mais mas não dá. Tomo banho rápido, engulo café com leite, visto o terno e saio para o cotidiano. Como vim parar aqui? - indago-me enquanto manobro na garagem apertada do velho prédio. Não há respostas para consequências das escolhas que fazemos.

Agora o trânsito. Ah o terrível trânsito! Fecho a janela, ligo o ar-condicionado com o circulador interno, mas ainda assim a malcheirosa poluição dos escapamentos invade meu pequeno espaço de privacidade nesta loucura toda. Tenho rompantes de gritar para que parem de buzinar. Por que buzinam tanto se não há para onde fugir?

Um ambulante bate no vidro insistentemente. Uma, duas, nove vezes. Então abro com impaciência para dizer que não quero o produto que me oferece. Ele faz um muxoxo e se afasta. Prejuízo para mim porque o guarda de trânsito acaba de anotar minha placa e certamente é porque não estou com as mãos no volante.

Duas horas depois de sair de casa finalmente chego ao meu burocrático trabalho. Ambiente artificial de ar-condicionado, barulho de teclas nervosas de computador e aquela cor bege estressante para todos os lados. Mal cheguei e o diretor me chama, quer falar comigo a sós. Diz que fui o melhor profissional da empresa ano passado e que por isso me dará um bônus que posso gastar como quiser.



Desapareci daquele mundo de caos absoluto e apareci aqui neste lugar. Aspiro um cheiro suave de natureza e ouço apenas os pássaros. Tenho dinheiro suficiente no bolso mas isso não importa mais porque não há onde gastar. E sabe aquele despertador que me violentava à seis? Está no fundo das águas tranquilas do lago.

Pensei bem e decidi que vou converter aquela bônus em aposentadoria.

Adriano Curado

Nenhum comentário: