A janela da alma


Cá está a janela abandonada, ausente de corpos que a habitem, desesperança de se reabrir ao mundo. E por ali já desfilaram tantas serenadas para as sinhás e já se discursou eternidades para os coronéis! E o quanto já se espionou sem ser visto, pelas frestas das tabuletas anônimas! Agora a janela está ali, abandonada na tapera desacorçoada, deixada ao humor do tempo implacável e esquecida do glamour impactante de outras eras. Vai desaparecer com a casa e levará junto a história mal contada dos amores proibidos. Vai para a região das lendas sem sequer ter deixado a dos sonhos ou excursionado pelas almas combalidas dos poetas esquálidos. Ali estava a janela abandonada...!

Adriano Curado

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