Moça distante


Moça tão distante nas alturas infinitas, sentada ali na beira da praia ao entardecer, solidão que transpassa sua alma! Se o vento bate contra, diria que chora, mas isso não posso afirmar com convicção. Estou aqui há cinco dias e em todos ela sempre está ali, naquela rocha grande, à hora dos anjos, quando o sol fincado pela flecha da noite agoniza e sangra sua dor no poente infinito.

Às vezes sinto rompante de me sentar ao seu lado, ainda que em silêncio permanecesse, só para sentir a vibração de seu espírito e a fluidez das amplitudes de sua alma. Mas sei que não devo porque esse é o momento de sua meditação profunda, de seu encontro com algo que ela acredita como sagrado.


E enquanto permaneço cá neste paraíso do Caribe, não posso me ausentar da presença da moça distante, e tão próxima, como se, sem mim, ela se perdesse nos labirintos de conjecturas do pensamento e não pudesse mais voltar. Ora, como se voltar fosse algo imprescindível!

Quer saber, amanhã vou lá. Se ela aparecer aqui em frente minha cabana eu vou me sentar ao seu lado e, sem mais nem quê, dar-lhe um beijo tão espetacular que reviverá o próprio sol e o fará retroceder de sua morte. Mas só amanhã que hoje vou apenas contemplar.

Adriano Curado


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