Eu torcia
o nariz para as campanhas do governo sobre doação de sangue. Achava
que aquilo não era comigo, que se tratava de um procedimento
dolorido e que eles vendiam o sangue da gente.
Pensamos
coisas assim até que acontece o inesperado em nossa casa.
Doente,
papai precisou ser internado numa UTI e começou a receber bolsas de
sangue. Não demorou muito e a clínica ligou para combinar a
reposição do estoque usado. E a conta não era pequena.
Precisávamos juntar uma turma de 25 doadores. Eu doei pela primeira
vez na vida e vi que não sentia dor alguma, era pura bobagem. Depois
doaram os parentes mais próximos, mas ainda assim a conta não
fechava, pois era sangue demais.
A
princípio a gente se assusta com um fato assim, mas depois descobre
que existe uma magia chamada “solidariedade”. Iniciamos uma
campanha e eu me surpreendi com a quantidade de voluntários que
queriam ajudar minha família. Foi tanta gente que tivemos de alugar
um micro-ônibus para transportar todo mundo.
Eu
transportei quatro pessoas no meu carro e ouvi histórias que me
emocionaram. Um dos rapazes, cujo nome nem cheguei a saber, me
confidenciou que a mãe viera do Pará para visitá-lo em Goiânia e
iria embora naquela manhã. Pediu-me a gentileza de não chegar após
o meio-dia, pois ela retornaria à terra natal naquele horário.
Voltamos às onze horas e ele ficou apenas uma hora a mais com a mãe.
E olha que aquele moço nem me conhecia e talvez nunca mais nos
vejamos.
O
pessoal que foi no micro-ônibus estava com um sorriso no rosto,
feliz por poder ajudar minha família. Eu ouvia palavras
encorajadoras sobre a melhora de papai. E não deixava de indagar em
meu íntimo: por que tudo isso? Essa gente deixou o conforto do lar,
alguns não foram trabalhar, com o único fim de ser solidário.
De tudo
isso temos que tirar lições, pois é para aprender que estamos
neste mundo. A primeira delas é saber que sempre necessitamos do
amparo alheio. Não importa a quantidade de dinheiro que se tenha e
nem o prestígio que se goza, um dia todos nós precisaremos do
próximo. A outra é tomar consciência de que há muita gente boa
neste mundo, apesar que só nos chegarem notícias de bandidagem e
maldades.
Eu
precisava compartilhar isso com vocês.
Adriano
César Curado
Um comentário:
Todos somos filhos do mesmo Pai.
Linda postagem.
Beijos.
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