Sempre tive a sensação
de pertencer a outro lugar. Estranhava as palavras com que me falavam
e achava esquisito as pessoas não ouvirem o que eu ouvia. Na escola,
no liceu, na faculdade, a sensação de não ser daqui inquietava-me.
Aprendi uma maneira de me comportar que não era minha, um idioma que
não coincidia com o meu, emoções que me não provocavam qualquer
eco interior. No fundo da minha alma estava de visita e cabia-me, por
necessidade e educação, adotar os hábitos nativos, que se me
afiguravam complicados e inúteis. Ainda hoje me surpreende as
pessoas julgarem que não tenho sotaque e não é à língua que me
refiro, é a tudo o resto.
Antônio Lobo Antunes
3 comentários:
Lindo texto. Bjs.
Todos nós já tivemos essa sensação uma vez na vida.
Beijos.
É pura poesia que se derrama no formato de prosa.
Beijos.
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